sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Tá bem?

 Opa

Tá bem?

Tô boa

Mais ou menos

Eita

Acabou o ano né?

Glória a deusa

E de resto?

O bagaço da laranja

Mas é pra frente que vamo

Pisando atrás pra pegar impulso, pulso

Tá tudo batendo aqui

Bate forte o tambor

Eu quero tic tic tic tic tá

Sem tarja

Na marra

Na sorte

Acaso do acaso das cartas de tarô

Voltamos?

Nunca fomos embora

Fim de hiato

Tá no prato

Me deram migalhas

Eu quero o banquete

Beijo platônico

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Roda da Fortuna

 "Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião, o mundo rodou num instante na roda do meu coração" - Chico, muso, Buarque.

Quem tece os fios do destino? As moiras como diziam os gregos, as fiandeiras do universo, você mesmo? Sua família ou o que acontece com você? Será que o destino existe sob a figura de um senhor de barbas ruivas e humor duvidoso, ou será uma invenção delirante para justificar as cagadas humanas?

Não sei.

E imagino que a menos que você seja um religioso radical você também não saiba.

E isso nesse momento nos coloca muito próximos, a nossa ignorância, seria o destino que desejava esse momento? Ou seria apenas uma sincronicidade explicada por uma análise junguiana bem acurada?

Não sei.


E devo confessar que de certa forma eu vivo como na música da Sandy: um misto de prazer e agonia. Prazer por saber que a vida se mantém num lugar desconhecido e por isso não passível de julgamentos ou de preparações para determinados momentos, ela segue espontânea e imprevisível, posso alegar minha ignorância como salvo conduto para muita coisa, posso me maravilhar na surpresa cotidiana e na provocada. Ela segue uma caixinha de surpresas como diriam os comentaristas esportivos narrando os jogos do Brasileirão.

Agonia porque eu adoro uma fofoca, adoro um spoiler, saber do que virá me dá a falsa, eu sei, sensação de controle mínimo da situação, eu antecipo meus passos, antecipo a resposta, aquele discurso ensaiado tantas vezes no banho entre espuma no olho e raiva no coração será usado porque eu sei que vai chegar esse momento, eu estive no futuro e eu vi. 

E por isso eu gosto de caminhar no meio da tábua, eu gosto de ver os signos, símbolos e significados que a humanidade e a natureza deixam escapar sobre o futuro, o passado e o agora, tudo isso e toda essa reflexão veio do meu café da manhã. Arrumando minhas coisas, meus livros e tomando café ao mesmo tempo, que o sagitariano é esse inferno, caiu de dentro de um deles uma carta de tarô: A Roda da Fortuna. A carta magna do destino, daquilo que não se decifra, essa Esfinge esfregada na sua cara afirmando que você não sabe de nada inocente, nada, nadica, nadinha de nada como diz meu filho.

E eu não sei mesmo, mas que eu queria....ah eu queria, você não?



quinta-feira, 7 de abril de 2022

Jovem Senhora

 "O tempo é como um homem bonito, apenas uma grande ilusão." - Minha vó Cida

Quarta feira, 13h30 da tarde, o céu está ensolarado. A guerra na Ucrânia continua, a Pandemia continua, o desgoverno continua, os cachorros continuam latindo antes de eu me levantar as 05h30, e foi nesse movimento de continuidade que minhas costas continuavam se comportando como uma tábua de madeira boa me levando ao seguinte diálogo no telefone:

- Alô?

- Alô.

- Boa tarde.

- Boa tarde, tudo bem? É da Leila Massagem?

- SIM!

- Maravilha, estou tentando faz tempo falar aí mas é meio difícil né?

- Telefone fixo, quase ninguém usa mais, mas eu prefiro assim, não quero parar minha vida por causa de um telefone.

- Tá certo, tá certo. Eu gostaria de marcar uma massagem.

- Pode ser com a Sheila?

- Mas ela é tão boa quanto a Leila?

- Quantos anos você tem?

- Quarenta.

- Ah então a Sheila é melhor, ela também é fisioterapeuta, na sua idade é bom ter esse acompanhamento.

Silêncio

- Alô moça?

- Oe, desculpa estava refletindo sobre minha condição etária atual, pode marcar por favor.

- Sábado as 09h tudo bem?

- Quanto tempo demora?

- Depende, se a pessoa estiver mais ou menos pelo menos uma hora, se estiver ruim umas duas, como a senhora está?

- Ah eu vou levar uma marmita, capaz de passar o dia aí.


Duas coisas interessantes podemos tirar desse breve diálogo quase existencialista de uma singela tarde no meio da semana: as coisas que acontecem enquanto esqueço que envelheço e o uso do telefone fixo. 

É muito louco não é? Eu consigo me recordar dos números de telefone da casa da minha família lá na minha saudosa Pirituba, dos números telefônicos das casas das minhas amigas de infância e adolescência mas sou completamente incapaz de escrever aqui de bate e pronto o número do meu boy. O número do telefone celular claro. Não se trata aqui de um comentário nostálgico de tempos atrás e nem de demonizar a atual tecnologia, mesmo porque se eu fosse ser nostálgica eu já iria pra ficha de telefone, as filas que se faziam no orelhão na esquina de casa a noite, aquele falatório coletivo, a central das fofocas do bairro, afinal todo mundo ouvia a conversa de todo mundo incluindo quem nem ia telefonar para alguém.


Das fichas da telesp, do DDD mais barato na madruga boladona, passando pelo fax, pela internet discada, chegamos ao smartphone, esse apogeu da comunicação contemporânea, comunicação incessante, quase infalível, sempre alerta, sempre cheia de sempre e por isso sempre abocanhando muito do nosso precioso e irrecuperável tempo.

Leila sacou isso, pegou esse movimento e não quis ir nessa barca, só tem o telefone fixo, aquele que os maias utilizavam junto com dinheiro em papel. Leila ligeira, ninguém acha essa mulher Brasil, nem eu que apenas num golpe de sorte consegui ouvir sua preciosa voz. Leila tinha a voz tranquila, invejei Leila por alguns instantes, eu que tenho quinze grupos no whatsapp das escolas onde trabalho, eu que estou com o tempo precioso me pesando nas costas, estresse disse minha médica, Leila sua danada, que sorte a sua.

Enquanto eu envelheço e me torno finalmente a jovem senhora que vejo no espelho todas as manhãs, a Leila só pode ser encontrada a hora que ela quiser, isso deve valer por uns trezentos botox. Você precisa relaxar diz minha médica, suas dores são de tensão, tensos anos bordaram minhas dores nas costas, como um desenho enigmático que tento decifrar, mas por hora eu só me recordo do número da casa onde morava: 3882-8412.


quarta-feira, 7 de julho de 2021

Esquenta

 Deixa balançar a maré...

Retornando aos poucos, pós pandêmica, pós maternidade, pós caos, pós cringe,
póstando textos novos sobre velhas questões, ou não.

Beijocas cintilantes proceis




segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Na poeira dos dias

Em algum canto desse mundão:

- Nossa a semente é uma coisa muito louca né, é um trocinho desse tamaninho e de repente vira uma baita árvore, por que isso acontece?
- Porque a vida quer viver querido.
- Humm, verdade, e as vezes como a semente ela fica escondida na poeira e não brota né?
- ...... (Não consegui responder nada com dignidade)

     Tem diálogos que mexem com a gente, geralmente os mais despretensiosos e ao acaso como o transcrito no inicio desse texto, eu particularmente sempre fico mexida com essas coisas que acontecem ao acaso, se é que o tal do acaso existe como insistem as mutações genéticas.
Não precisa de muito para me perturbar, acho que tenho tendências paranoicas, conspiracionistas banhadas de ansiedade e aquela queda por uma boa fofoca ou ideia, embora pareçam coisas diferentes eu gosto de colocar a fofoca e a ideia na mesma prateleira do mercado.

    Deixei por alguns instantes de lado minhas divagações sobre a potência gigante que é uma semente, eu acho um assombro...você olha aquele troço pequeno e se colocar na terra vira uma sequóia de não sei quantos mil metros que vai durar mais do que eu e você juntos meu amor. Um assombro. É a vida querendo viver como disse ao querido e ele me trucou com uma crise existencial razoável, a vida que como a semente ou outras coisas pequenas fica perdida e muitas vezes esquecida na poeira desse mundão véio sem porteira e redondo, insisto senhoras e senhores ele é redondo, parem com essa obsessão medieval por ângulos retos e geometria plana.


      Quantas vezes eu deixei a vida, essa danada, se camuflar na poeira das coisas? Logo eu que tenho tão pouco apreço pelas tarefas domésticas...

   Mas como saber quando a gente faz essa cagada monstra? Sem entrar em grandes questões metafísicas sobre o que é a vida e blá blá blá, eu me refiro a aquilo que faz a vida valer a pena pra gente, aquilo que faz os olhos brilhar, o coração se arrefecer de conforto gostosinho ou de prazer delicioso, aquilo que trafega entre a paz e o contentamento, o que colocaríamos na nossa lápide: "Aqui jaz uma criatura que viveu bem pra caralho porque viveu isso, isso e aquele outro."


    O que é isso, isso e aquelo outro? O borogodó da vida. É isso, como saber quando eu deixei o borogodó da vida sumir no meio da poeira cotidiana, no meio das burocracias letárgicas e necessárias (?), no meio do caos que se instalou e anestesiou alguns sentidos? Será que a gente sabe?

    Eu não sei. Quero dizer, não sei se a gente sabe se é que você sabe o que eu estou falando. Mas como diria Guimarães Rosa eu desconfio, desconfio de muita coisa, desconfio que quando as coisas tomam esse rumo dá uma espécie de aperto esquisito na alma da gente, como se alguma coisa estivesse errada,  desconfio que a gente pare de cantar no chuveiro, sim eu canto, de dançar quando toca pagode anos 90, de rir das coisas bobas e das sérias. Desconfio que falte um glitter no olhar e desconfio veja só, desconfiança das brabas, que a gente pare de olhar o céu e se encantar com ele.