domingo, 14 de janeiro de 2018

Embalando a faxina

Lava roupa todo dia, que agonia.

Estou de férias, graças ao universo. Na primeira semana praticamente hibernei no meu sofá, somente para lembrar que é possível fazer isso sem culpa. Na segunda semana me locomovi mais, vi pessoas, passeei com o boy. Agora já refeita posso me dispor a fazer calmamente mais uma das coisas que ficou em 2017: terminar a faxina do ano.

O faxinão como também é conhecido, é muito feito nessas ocasiões de fim de ciclo, fim de ano, fim de qualquer merda e sujeiras em geral. Você limpa, tira umas coisas que não sabe porque raios está na sua morada, rearranja os móveis e sente-se plenamente adulto. Não, eu não sou uma grande fã da faxina, isso tampouco quer dizer que eu seja uma pessoa de hábitos pouco higiênicos, sou limpinha, juro.


A questão é que sempre acho que existe algo mais empolgante no mundo para ser feito do que a dita cuja. O sol brilhando, a chuva para assistir um filme, tantas comidas para provar, roteiros de viagem para pensar, amigos para ver, a lista é infindável. Mas você sabe, eu sei, não é possível escapar da faxina, se você mora sozinho então nem pensar...um ambiente razoavelmente arrumado e limpo ajuda seus caos interior.

Talvez seja essa minha grande motivação, quando dou aquela geral na casa sinto como se estivesse fazendo o mesmo internamente, jogando as tralhas fora, dando uma lustrada no coração, reorganizando a mente. Minha mãe é uma dessas entusiastas da limpeza doméstica, ou da grande limpeza como ela chamava os dois dias, eu disse dois dias pessoal, de faxina semanal, sim...semanal, ela era dessas. Nesses dois dias a vida era um inferno, nada de brincar na rua, de assistir televisão, jogar vídeo game então nem pensar, até as leituras de gibi eram suspensas, ela te coagia a ajudar. Por vezes chantageava a mim e meus irmãos com coisas gostosas de comer, mas no geral era a pura pressão matriarcal, e havaianas claro.


Tudo que é obrigação fica chato e eu particularmente acho um porre fazer, eu e metade da humanidade imagino, daí talvez venha a pouca afeição desenvolvida por uma boa faxina. Ah mas depois fica tudo uma belezinha né? Deu um trabalho da foice, você relutou mas depois....aquela vitória interna de quem resistiu as tentações do mundo lá fora e se debruçou sobre a vassoura, os panos, as águas sanitárias e poeira. Sim, mais uma vitória para o currículo. 

E essa vitória nunca é alcançada sem uma boa trilha sonora, acho fundamental uma boa trilha para ter inspiração para tal empreitada. Tem que goste de um tudo nesse momento fatídico, eu particularmente prefiro coisas animadas para me tirar da depressão de mais uma limpezona de horas, um pagode anos 90, o muso Magal, enquanto limpo Bethania a diva mor fica repousando tranquilamente no set  que nunca vai rodar para a ocasião. Segue uma dica de trilha, pegue sua vassoura e não voe hoje, apenas diga onde você vai e vá varrendo. Abraços domésticos.


sábado, 13 de janeiro de 2018

Trovoa

Quando o lirismo é sólido como concreto.

Certa feita o fabuloso e eterno Ferreira Gullar disse que a arte existe porque a vida não basta, ou algo assim agora não me recordo com exatidão. Acertou, brilhou, concordo plenamente. E nesse grande panteão que chamamos de arte seleciono um excerto seu: a música. Sim, já escrevi sobre como a música é mara em nossas vidas, parafraseando a diva mor Bethânia: Música e perfume.

Mas toda essa conversa meio mole meio dura é para dizer que a vida de fato não basta, ela é imensa em sua imensidão mas o nosso aparato para descrever toda essa plenitude e furacão que é viver as vezes carece de repertório emocional e racional. Aí, meus amados e amadas e amadxs é que muitas vezes entra a música.

Existem sentimentos que são exorcizados ou relembrados dependendo da música, pode ser um João e Maria, pode ser um Baile de Ilusão, pode ser uma saudosa lambada dos anos 80 onde você que tem mais de trinta com certeza bailou loucamente, enfim, pode ser tudo e nada. E pode ser o indizível, aquilo que atravessa sua garganta mas não sai, aquilo que mora nesse peitinho surrado e você não tem palavras para contar esse causo todo aí dentro.

Minha cabeça trovoa.

Com essa frase eu me reconheci e reconheci ao outro como nunca pude. Me faltava essa frase, minha cabeça trovoa, resumiu para caraleo todo uma gama de sentimentos e de histórias, algumas bem, outras mal sucedidas, fazer o quê né. Batendo suas unhas num copo de cerveja, eu fumo um malrboro como qualquer um, me atirar nos seus peitos, explode a garrafa térmica, fique....frases que soltas numa canção dos diabos de tão boa, ou melhor...dos deuses.

Minha cabeça trovoa.

E como trovoa até hoje, um trovejar sem fim, a multiplicidade de medos e desejos, ouvi essa canção ao vivo e como é potente, como é linda, como é humana, na sua aura bôemia e na singeleza de sua sinceridade. Grande Maurício Pereira. Minha cabeça trovoa.


OBS: Era pra ser antes do fim do ano, mas antes tarde do que nunca né mesmo.