domingo, 28 de julho de 2013

Chico eternamente

Bom, se você é um habitué deste espaço sabe que aqui existe um muso...
Sim, todo escritor, ou pessoa que como eu tenta escrever, que se preze tem um muso inspirador... ou musa no caso dos rapazes... Eu não poderia ficar fora dessa e vira e mexe uso esse espaço para falar e colocar belas canções do muso mor de todos os tempos: Chico Buarque.

Virou lugar comum gostar de Chico, mas o meu caso é de nascença mesmo... desde pequena meus passos são embalados por alguma canção do referido hombre. Desde então de tempos em tempos uma música fica mais no ar, a do momento é Futuros Amantes, linda, linda, linda....

O que eu gosto dessa música é o ar nostálgico dela, sim eu sou terrivelmente nostálgica, ela fala de saudade, de algo que sempre fica no ar por mais surreal ou inexplicável que seja. Gosto da melodia, do fato dela falar que nenhum amor é perdido, apenas fica por aí esperando que alguém o receba, nem que tenha que ficar milênios e milênios no ar...

Mas gosto mais ainda de como ela começa: "Não se afobe não, que nada é pra já...", para um ansioso como eu teria que ser um mantra escrito no espelho do banheiro, pra todo dia dar de cara com isso, que é o óbvio né... Mas na canção soa leve, soa calmo, aí sim mais audível aos meus ouvidos ansiosos de futuros, saudosos do passado mas que tem prestado muita atenção no que de fato importa: o presente.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Apenas uma carta

"Não mexe comigo
que eu não ando só.."
(Carta de amor  - Maria Bethânia, 2012)

Era alvo certeiro, andava nas matas sempre alerta, vigia de si mesma, vigia da noite... Os olhos do outro buscavam sua pele, seus cabelos, seus medos... fugia, fingia fraqueza e pedia socorro ao velho que passava e lhe estendia a mão calejada em forma de folha. Pelas mãos foi levada ao alto, alto de torre, alto de morro, alto deserto....

Entre mil grãos de areia recordava o caminho de casa, o caminho da alma e num oásis de verde miragem avistou seu coração, devolvido pelos outros que o tomaram a força. O coloca no peito, ele ainda cabe, ainda vale? Ja não avista o velho de mão folhosa e nem tampouco o deserto, está de volta a rotina de gesso e cimento, de argila e tintas, de tecidos e brocados, feijão e empanados, desperta do sonho. No centro de sua vida retoma suas cores, retoma o papel colorido que está sobre a mesa, ainda receosa dos olhares daqueles que dela tudo queriam escreve uma carta sem endereço, mas de bom apreço e destino certo, com o coração no peito está amparada novamente:

"Não mexe comigo, que eu não ando só,
 Eu tenho Zumbi, Besouro o chefe dos tupis,
Sou tupinambá, tenho os erês, caboclo boiadeiro,
Mãos de cura, morubichabas, cocares, arco-íris,
Zarabatanas, curare, flechas e altares.
À velocidade da luz, no escuro da mata escura, o breu o silêncio a espera.
Eu tenho Jesus, Maria e José, todos os pajés em minha companhia,
O Menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos, o poeta me contou.
Não mexe comigo, que eu não ando só,
Não misturo, não me dobro.
A rainha do mar anda de mãos dadas comigo,
 Me ensina o baile das ondas e canta, canta, canta pra mim.
É do ouro de Oxum que é feita a armadura que guarda meu corpo,
Garante meu sangue, minha garganta.
O veneno do mal não acha passagem
E em meu coração Maria acende sua luz e me aponta o Caminho.
Me sumo no vento, cavalgo no raio de Iansã, giro o mundo, viro, reviro.
Tô no recôncavo, tô em Fez.
Voo entre as estrelas, brinco de ser uma,
traço o cruzeiro do sul com a tocha da fogueira de João menino,
rezo com as três Marias, vou além, me recolho no esplendor das nebulosas,
descanso nos vales, montanhas, durmo na forja de Ogum,
mergulho no calor da lava dos vulcões, corpo vivo de Xangô.
Não ando no breu, nem ando na treva
É por onde eu vou, que o santo me leva
Medo não me alcança.
No deserto me acho, faço cobra morder o rabo, escorpião vira pirilampo.
Meus pés recebem bálsamos,
unguentos suaves das mãos de Maria Irmã de Marta e Lázaro, no Oásis de Bethânia.
Pensou que eu ando só, atente ao tempo.
Não começa, nem termina, é nunca é sempre.
É tempo de reparar na balança de nobre cobre que o rei equilibra,
fulmina o injusto, deixa nua a Justiça.
Eu não provo do teu fel, eu não piso no teu chão,
E pra onde você for, não leva o meu nome não
Onde vai valente? Você secou, seus olhos insones secaram,
não veem brotar a relva que cresce livre e verde longe da tua cegueira.
Seus ouvidos se fecharam à qualquer música, qualquer som,
nem o bem, nem o mal, pensam em ti, ninguém te escolhe.
Você pisa na terra mas não sente, apenas pisa.
Apenas vaga sobre o planeta, e já nem ouve as teclas do teu piano.
Você está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona, não tem alma.
Você é o oco, do oco, do oco, do sem fim do mundo.
O que é teu já tá guardado.
Não sou eu quem vou lhe dar,
Eu posso engolir você, só pra cuspir depois.
Minha fome é matéria que você não alcança.
Desde o leite do peito de minha mãe, até o sem fim dos versos, versos, versos,
que brotam do poeta em toda poesia sob a luz da lua
que deita na palma da inspiração de Caymmi.
Se choro, quando choro, e minha lágrima cai,
é pra regar o capim que alimenta a vida,
chorando eu refaço as nascentes que você secou.
Se desejo, o meu desejo faz subir marés de sal e sortilégio.
Vivo de cara pra o vento na chuva, e quero me molhar.
O terço de Fátima e o cordão de Gandhi, cruzam o meu peito.
Sou como a haste fina, que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta. "

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Enfrentando a zica

Sabe aquele dia em que você acorda e sente que vai acontecer a maior merda do mundo? Pois é, esse dia existe e a merda sempre é real. A nossa curta existência é cheia de aprendizados, coisas boas, interessantes, mas também repleta de fases turbulentas, esquisitas, ruins, onde você meu amigo se sente o cocô do cavalo do bandido vesgo, fedido e manco. 

Quando uma coisa começa a dar muito errado você tenha a certeza de que está cercado pela zica. Não a Dona Zica, mulher do incrível Cartola o sambista do milênio, mas a zica pura, a má sorte, a urucubaca do mundo todo. Como dizia minha avó Cida: "Quando a merda começa a vir pode sentar e esperar que a avalanche tá só começando." 

Parece um pouco pessimista demais esse texto? Impressão superficial... o que eu quero dizer é que já que está tudo um Deus me livre o importante é manter a calma e tentar controlar a situação, tentar ficar bem e superar com glamour essa fase zicada, sim... porque se a zica começa ela também há de acabar. Acredita e vai. 



Existem coisas que não se deve fazer numa maré ruim, afinal é preciso manter a serenidade. Se você está na merda não vá ao banco pedir o extrato bancário, para que você vai fazer isso? Para ter certeza de que além de estar numa pior você também está chafurdado na pobreza? Não faça isso, esqueça essa bobagem e vá comprar as coisas no crédito, sem pedir a segunda via que é para não lembrar das loucuras consumistas cometidas, e se não tiver certeza se o cartão vai passar faça figas que costuma funcionar. 

Invista em comidas legais, gordinhas e açúcaradas... Eu sei, de repente a fase tá tão brava que nem para o chocolatinho da salvação você tem dinheiro... acontece, mas tudo tem saída e esse e o momento em que você utiliza a criatividade e o dom culinário apostando em versões baratas e ricas em alegria como pipoca com caramelo, pão com ovo e um todynho quentinho. Dor de barriga? Deixa rolar, afinal você já está na merda mesmo...

Evite contato com ex-qualquer coisa ou futuro-qualquer coisa, são motivos de sobra para culpas e aflições de toda espécie. O primeiro costuma esfregar na sua cara suas falhas ou então insistir que ainda é a salvação da sua vida, maior mentira não existe, se fosse estaria vivo até agora no seu coração. O segundo caso gera angústias e culpas, não crie expectativas de que será seu ombro nesse momento difícil, não se apoie nisso, afinal de contas tem que esperar passar a fase para poder tentar um romance com um pouco mais de dignidade na cara. 

Dignidade? Sim, porque se você está na pior deve estar com uma cara horrível, com aquela olheira que dá pra ver na nuca e um semblante pavoroso de autopiedade. Se você é mulher invista num bom corretivo, um bom blush, um rímel e use tudo sem dó, afinal de contas a humanidade não merece ver você arrasada pela vida e nem com cara de cocker chorão. Se você é homem, arrume a barba, um bom perfume e postura ereta, você pode estar na merda mas nunca, nunca perca o glamour de vista.



Para além de tudo isso mantenha a fé em si e tente perceber o lado bom das coisas, no começo é difícil... mas depois cria-se uma certa habilidade de rir de si mesmo e da merda toda. Quando chegar nesse ponto tenha a certeza de que tudo irá melhorar aos poucos, afinal de contas como dizia ainda minha avó Cida: "... mas depois que passa a avalanche toda filha, ah a vida fica uma belezinha viu, fica tudo adubado e tudo cresce mais verde.". Tá vendo? É só acreditar...

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Pé na estrada baby...

"Viajo para conhecer minha própria geografia" - Mário Quintana

Desde tempos remotos a humanidade procura um elixir para suas frustrações, tristezas e corações partidos. Ou você acha que o chocolate surgiu por acidente? Foi uma receita calculada para acalentar os machucados emocionais dos homens bunda mole, tenho certeza disso. Acredito que uma das grandes coisas que um ser humano pode fazer por ele mesmo em qualquer momento da vida é viajar, principalmente se esse momento for tenso, confuso ou te deixar com o saco na lua.

Meter o pé na estrada é essencial, é mágico, é bom. Primeiro porque se tem a doce e necessária ilusão de que saindo de onde você está no momento se acaba deixando para trás o problema que te atormenta, mentira... o problema vai com você, esse lazarento perseguidor, mas pelo menos ele vai de férias, vai de bom humor e parece até menor do que é realmente. 



Segundo porque você sai de circulação, some do mapa, e tem finalmente a possibilidade de ficar sozinho ou extravasar as emoções em território desconhecido, ou melhor, em um território onde ninguém te conhece e nem vai lembrar das asneiras que você, após beber duas garrafas de vinho, pode fazer. E terceiro porque é muito legal conhecer um lugar novo, sentir novos cheiros, novos sabores, novas emoções, ver a estrada passar pelos seus olhos lhe mostra o quanto o mundo é grande e que muitas vezes apequenamos nossas vidas por uma limitação de estrada. 


 E aí meu amigo vale tudo, vale ir sozinho, com o amor, com amigos do peito e amigos sem peito, escondido como a fuga das galinhas ou como prefere meu pai em excursões muito animadas organizadas pela tia mais doida do bairro, para lugares muito família como São Tomé das Letras, a Parada Gay ou colônias naturistas.  

O importante é sair do lugar, respirar um ar fresco que vai trazer idéias frescas a sua mente cansada pela vida real do dia-a-dia. E viagens costumam render boas estórias para uma mesa de bar no fim de tarde, seja pela zica encontrada no caminho ou pelo beijo que você nunca vai esquecer, e francamente não importa a distância percorrida, pode ser 850 kilometros, pode ser 20, mas quantos a sua alma vai percorrer? No fim é isso que importa.

E não se iluda, a adversidade faz parte de qualquer boa viagem. Trilhas perigosas, chuva na hora errada, combustível que acaba, aquele chalézinho que você alugou pela internet e parecia tão lindo e que na hora do cara a cara se demonstra menor que a área do tanque da sua casa...enfim... tudo motivo de superação, risada e de criação. Sim, porque você que sempre vai acampar sem grana sabe que cozinhar com pouco é uma arte, sem fogo então é para poucos...bem poucos.

Quer curar o coração? Viaja meu bem, faça como o Rei Roberto: "Eu prefiro as curvas da estrada de Santos onde eu posso esquecer um amor que eu tive e vi pelo espelho, na distância se perder...", ou então como Cazuza: "Viver é bom nas curvas da estrada, solidão que nada...". Pra quem ainda não tem o desprendimento necessário para viajar vale a pena ler um livro muito legal chamado On the road, ou Pé na estrada na tradução, do escritor norte americano Jack Kerouac, e se a preguiça de ler for gigante veja o filme, uma viagem de caronas, jazz e poesia, amores e todas as intempéries que só a estrada pode te proporcionar. 

Inspirações a parte o importante é não perder de vista a idéia de se jogar nesse mundão de meu Deus, sem pensar muito, sem frescuras e nem cocotices, as melhores viagens não são as muito pensadas mas as muito sentidas. Afinal como disse Marcel Proust: "A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar somente novas paisagens, mas em ter novos olhos".

terça-feira, 9 de julho de 2013

Quem conta um conto...

Sempre ouvi que era uma pessoa exagerada, sempre, desde pequena quando a professora de português pediu para a turma escrever um texto com uma estória e eu fiz praticamente um roteiro de novela mexicana com cerca de vinte páginas de pura emoção, segundo a professora eu havia exagerado um pouco embora ela tenha se emocionado com a estória de Diva Aparecida, a mulher sem o dedo mindinho e que tinha o dom de parar o tempo.

No entanto a minha característica levemente exagerada não chega a aumentar um fato ocorrido a ponto dele ficar distorcido da realidade, talvez um cadinho só, mas não chega no ditado "quem conta um conto, aumenta um ponto".

Sim querido leitor, porque é isso que ocorre com a maior parte de nós, brasileiros de sangue latino, nós temos a habilidade de transformar o mais tedioso dos fatos em uma cena digna de constar nos momentos mais inquietantes da Odisséia de Homero.



Você já presenciou uma cena dessas, eu também, como no outro dia que uma senhora chegou desesperada no trabalho dizendo que havia ocorrido um acidente horrível na rua, minutos depois vem a Dona Rosa e diz que houve um acidente tenebroso na rua, um carro havia batido na ponte, minutos depois o faxineiro disse que não só era horrível o acidente como havia acidentado um menino que passava e que o carro estava destruído, saí na rua pra ver e encontrei a dona do carro, pois é... havia um arranhão no mesmo, a ponte continuava inteira e o tal do menino tinha estourado a havaiana, e ria...

E quando aquela sua tia vem contar a estória que ouviu do fulano que é amigo da sicrana que é prima da mulher que foi pega com dois anões dentro de um fusca? Fofoca aumentada certeza... Sem falar no seu próprio exagero, sim leitor porque eu sei que você também exagera... Como uma amiga minha que diante de uma freada brusca do carro do namorado disse que viu a morte de perto...olha o drama...

Mas a verdade é que sem aumentar um pouco parece que as coisas retornam a banalidade do dia a dia, então porque não por um pouco mais de emoção na coisa? Mas as vezes se carrega tanto na tinta que o efeito é o contrário: alívio.



Certa feita minha irmã fez uma tatuagem escondida, com medo da reação de meu pai minha mãe foi preparando o coitado, disse que tinha acontecido algo terrível com a minha irmã, mas que ela não tinha muita culpa, que era mal da idade e por aí vai, cozinhou o cérebro do coitado até ele pensar em coisas das mais terríveis possíveis. Chegando em casa pediu pra ver minha irmã, quando ela mostrou a tatuagem ele caiu confortado de alívio no sofá, achava que ela tinha ficado grávida, prostituída, afundada no crack.... No fim achou até bonitinha a tal da tatuagem, dos males o menor dizia ele...

Pois é exageros a parte, eu também devo ter exagerado nos relatos, mas é isso que dá o tom... dá emoção, afinal como diz uma amiga minha quando vai contar algo: quer com emoção ou sem?