sábado, 13 de janeiro de 2018

Trovoa

Quando o lirismo é sólido como concreto.

Certa feita o fabuloso e eterno Ferreira Gullar disse que a arte existe porque a vida não basta, ou algo assim agora não me recordo com exatidão. Acertou, brilhou, concordo plenamente. E nesse grande panteão que chamamos de arte seleciono um excerto seu: a música. Sim, já escrevi sobre como a música é mara em nossas vidas, parafraseando a diva mor Bethânia: Música e perfume.

Mas toda essa conversa meio mole meio dura é para dizer que a vida de fato não basta, ela é imensa em sua imensidão mas o nosso aparato para descrever toda essa plenitude e furacão que é viver as vezes carece de repertório emocional e racional. Aí, meus amados e amadas e amadxs é que muitas vezes entra a música.

Existem sentimentos que são exorcizados ou relembrados dependendo da música, pode ser um João e Maria, pode ser um Baile de Ilusão, pode ser uma saudosa lambada dos anos 80 onde você que tem mais de trinta com certeza bailou loucamente, enfim, pode ser tudo e nada. E pode ser o indizível, aquilo que atravessa sua garganta mas não sai, aquilo que mora nesse peitinho surrado e você não tem palavras para contar esse causo todo aí dentro.

Minha cabeça trovoa.

Com essa frase eu me reconheci e reconheci ao outro como nunca pude. Me faltava essa frase, minha cabeça trovoa, resumiu para caraleo todo uma gama de sentimentos e de histórias, algumas bem, outras mal sucedidas, fazer o quê né. Batendo suas unhas num copo de cerveja, eu fumo um malrboro como qualquer um, me atirar nos seus peitos, explode a garrafa térmica, fique....frases que soltas numa canção dos diabos de tão boa, ou melhor...dos deuses.

Minha cabeça trovoa.

E como trovoa até hoje, um trovejar sem fim, a multiplicidade de medos e desejos, ouvi essa canção ao vivo e como é potente, como é linda, como é humana, na sua aura bôemia e na singeleza de sua sinceridade. Grande Maurício Pereira. Minha cabeça trovoa.


OBS: Era pra ser antes do fim do ano, mas antes tarde do que nunca né mesmo.




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