terça-feira, 22 de maio de 2012

Destino: verdade ou fanfarronice?

Em uma noite de um junho qualquer uma moça passeia pela praça da igreja e se depara com uma leitora de mãos. A leitura custa cinquenta centavos e a curiosidade do mundo todo, há uma grande fila no local mas nossa destemida heroína não se importa, afinal de contas é o destino dela que está em jogo. Chega o momento e a moça senta-se a frente da senhora dona dos dons especiais que a permitem decifrar a vida através dos vincos das mãos alheias:

- O que a senhora vê?
- Eu vejo que serás pobre...
- Ah vá, e o que mais?
- Vejo também que terá uma filha, trabalhará no que gosta e será muito querida...
- E o que mais?
- E só.
- Só? Não tem nada mais?
- Não.
- Marido, namorado, amante, gigolô, nada... nada?
- Ah sim, esse homem que você está agora não é para você, depois dele virá um outro que será o amor de sua  vida, seu grande companheiro e fiel escudeiro.

Pronto, era tudo o que a moça precisava, e queria, ouvir, mas ainda assim bateu um frio na alma, um arrepio....como assim não era o atual gato o amor de sua vida? Justo ele que ela amava mais que tudo, mais que todos, mais... E esse destino que se anunciava,
vindo direto de suas próprias mãos, seria ele real? Ela encontraria esse outro homem? Mas afinal de contas, o destino existe?

Destino, termo mágico para justificar grandes merdas que acontecem na vida e grandes maravilhas também. Quantas vezes você não ouviu alguém dizer "ah, mas isso é destino...", como se fosse algo imutável, uma armadilha da qual é inútil tentar escapar, como se fossemos reféns desse tar de destino.

E isso é algo tão complicado que nem o coitado do Aurélio consegue definir, segundo o dicionário Destino é: s.m.  "Entidade misteriosa que determina as vicissitudes da vida". Ou seja, algo do além que determina os rumos do barquinho agitado que é nossa vida, algo que provavelmente deve rachar de rir sabendo tudo o que vai acontecer, inclusive no que vai dar aquele flerte maroto seu.

Mas a humanidade é bicho tinhoso e nunca desistiu de tentar saber qual é a do Destino, desde tempos remotos buscando pistas de como será o futuro. Um dos mais antigos e famosos locais destinados a especulação sem limites sobre o destino é o Oráculo de Delfos, localizado na Grécia e consagrado ao Deus Apolo (O deus do amor) o oráculo funcionava como um intermédio entre os humanos e os deuses que sabiam do destino dos homens. As sacerdotisas do oráculo entravam em transe e conseguiam se conectar com o Olimpo, o Além e adjacências, trazendo respostas e enigmas para enlouquecer os ansiosos a respeito do futuro.

Desde então qualquer método que se propõe a adivinhar o futuro é chamado de oráculo, e estão espalhados aos montes por esse mundo de meu Deus: tarô, runas, búzios, borra do café, linha no óleo, bola de cristal, videntes, ciganas e por aí vai... Cada cultura apresenta sua contribuição para entender o que o destino reserva a nós, pobres mortais ansiosos e com faniquito de saber sobre nossa vida amorosa.



Sim, porque francamente... ninguém procura uma cartomante, um oráculo qualquer para saber da saúde, o que as pessoas querem é saber sobre o amor, sobre se vão pegar alguém até o fim do ano, se o fulano ainda gosta da beltrana, se sicrano tem sentimentos verdadeiros, se o namoro vai dar certo e por aí vai... No máximo alguma questão sobre dinheiro, trabalho, mas na essência é tudo sobre amor, paixões e sacanagens em geral, no melhor sentido do termo.

Mas como acreditar no que é dito, ouvido ou sentido? Será que faz sentido? E se for mentira, e se o destino for mutante e não estanque como se acredita? Então é possível mudar o destino e fazer da vida o que se bem entender ou de fato existe algo que escapa da nossa compreensão, e que nos toma, nos chega sem avisar, nem sempre no melhor momento, e que faz com que tudo vire uma zona, simplesmente porque era destino, estava escrito e iria acontecer quiséssemos ou não.

Não sei, mas quando penso no Destino imagino um senhor de bigode ruivo que deve rir muito de nós, ele que guarda os resultados, os prêmios, os amores, as curas e o futuro, deve rir da nossa limitação em aceitar que a maior parte das coisas que ocorrem na vida de fato não escolhemos ou não temos o menor controle. Talvez não seja o caso de achar que tudo está pré arranjado, mas perceber que existem coisas que escapam do nosso entendimento e controle.

A moça da leitura de mãos, agora solteira, aguarda ainda que um pouco descrente a última parte da leitura de suas mãos, acredita que o destino, esse fanfarrão, pode um dia ser benevolente e lhe trazer o que foi prometido, um amor, mas enquanto isso não acontece (se é que vai acontecer...) ela acha graça, acha mágico, e deixa o tempo passar... afinal de contas um pouco de magia na vida não faz mal a ninguém, ou faz?

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