domingo, 1 de novembro de 2015

Das esperanças perdidas

"O coração se pudesse pensar, pararia." - Fernando Pessoa

Está aberta novamente a temporada de desassossego senhoras e senhores, pode chegar que está tudo na promoção: tem baciada de intolerância nas linhas dos jornais, pepinos políticos com muitos porcentos de superfaturamento, mentiras e descalabros a vontade, ofensas, misoginia e erros de interpretação da vida dos outros a perder de vista.... enfim, tempos estranhos, medievais talvez...



De minha humilde e mundana parte, fora os desassossegos acima citados e o coração sempre na mão por qualquer desatenção, contribuo com esta temporada com as esperanças levemente desnorteadas, ou pelo menos eu acreditava nisso até uma hora atrás. E porque raios eu, sagitariana das mais convictas, acreditava que as esperanças estavam se esvaindo há apenas uma hora atrás?



Não caro e precioso leitor, não se trata apenas de uma questão zodiacal, a minha mudança de impressões vai além do horizonte mas ainda na mira dos meus olhos. Em visita à babilônia paulistana me deparei com uma série de acontecimentos estranhos em tempos atuais, vi e ouvi manifestações de respeito, carinho e pasmem....amor. Fiquei chocada com tanto amor.

Vi um mendigo que pedia ajuda e um homem negá-la para depois de andar um quarteirão voltar de cabeça baixa, tocar o ombro do mendigo e pagar um café com pão de queijo.

Vi um cego sendo ajudado por três desconhecidos a atravessar a rua, e ao tropeçar apesar de tanto auxílio os carros pararam e uma mulher desceu oferecendo ajuda e parando o transito para que os outros terminassem de recolher os pertences do cego.

Vi um casal se beijando longamente, e ao terminar o beijo se tocaram no rosto e sorriram, sorriram com uma luz que poderia iluminar aquela avenida, centro de transações financeiras milionárias, por pelo menos um mês.

Ouvi um moço que tocava trompete em troca de dinheiro e vi pessoas aplaudindo o seu talento e lhe sorrindo gentilmente, valia mais que moedas me disse o moço depois.

Vi pessoas dançando na rua, destaque para um casal de senhores que dançaram uma bela canção entoada pelo moço do trompete.

Vi comida ser distribuída à moradores de rua.

Vi uma criança passar por mim junto aos seus avós cantando "Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada..."

Vi pessoas se abraçando de saudade. Chorei.

E no ponto de ônibus ao sentar para esperar o ônibus enquanto apreciava a chuva que caía ou vi o diálogo de um pai com seu filho de uns quase dez anos:

- Filho nunca encoste em uma mulher se ela não quiser, não a ofenda por isso, as mulheres são sagradas foram elas que nos deram a vida, nunca desrespeite uma mulher.

- Eu sei pai, por isso que eu amo muito a mamãe, a vovó e a Aninha, porque elas cuidam da gente a a gente também tem que cuidar delas e tem que cuidar mesmo se não for elas.

- Isso filho, nunca se esqueça tá, te amo.

Depois desse bombardeio de coisas boas que o destino quis que eu visse, percebi que as esperanças não estavam perdidas do jeito que imaginava, era como naquele samba bonito: "Quantas belezas deixadas nos cantos da vida, que ninguém quer e nem mesmo procura encontrar....". As vezes não precisamos procurar belezas nos cantos da vida, elas nos alcançam para sossegar um pouco o coração.



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